sábado, 25 de fevereiro de 2023

Santa Cruz, e a Excursão da Morte

Por Renato Zarasky

Apresentação

    Intitulada por vários nomes, tais como Excursão Suicida e Epopeia Coral, essa excursão do Santa Cruz Futebol Clube as regiões Nordeste e Norte do Brasil, ainda na primeira metade do século XX, foi uma incursão promovida para angariar recursos financeiros aos cofres do clube, em um futebol brasileiro ainda sem tanto calendários e competições nacionais entre clubes. Assim, para os dirigentes corais ela era chamada “Excursão do Santa Cruz, ao Futebol do Norte do Brasil”.

    Mas o que tem de diferente nessa jornada? Bem, se não nos atentarmos aos fatos, seria um giro futebolístico qualquer, feito para adquirir dinheiro, contudo, não tem como desconsiderar o que aconteceu desde a saída do Porto do Recife no dia dois de janeiro de 1943. Em plena Segunda Guerra Mundial, com o Brasil inserido ao lado das fileiras aliadas, a equipe tricolor se joga ao oceano atlântico, arriscando ir a pique devido ataque das forças do eixo, passando por perrengues nos locais onde se estabelecem, dificuldades para se comunicar, dificuldades para se locomover, falta de dinheiro, sustos, doenças e até a morte de atletas. Tendo um planejamento de passar no máximo dois meses, a Embaixada Coral só retorna a capital pernambucana após quatro meses, trazendo na bagagem memórias, derrotas, vitórias, prazeres e azares, que são os temperos na construção dessa história.

Método e Metodologia

    O processo de trabalho aplicado para a construção desse artigo seu deu na leitura de periódicos físicos e digitalizados – Diário de Pernambuco, Jornal Pequeno (PE), A Ordem (RN), O Jornal (AM), Jornal do Commercio (AM), Jornal da Manhã (PE), Gazeta (PI), Folha da Manhã (PE) – do período entre 01 de janeiro até 10 de maio do ano de 1943, além da leitura da matéria “A Excursão da Morte” da Revista Placar nº 505, de dezembro de 1979, escrita por Lenivaldo Aragão. Após o processo de leitura analítica, foi realizado a ação de validar os dados descritos tanto na matéria da revista placar quanto nos jornais, e ao fazer comparações foi identificado deveras divergências de informações, seja em placares, horários e até mesmo o nome dos adversários do Santa Cruz. Foi também de grande contribuição as anotações feitas pelo Senhor Dirceu Paiva, patrono da memória coral, ao qual faz jus a Sala Memória do Santa Cruz levar seu nome. A própria Sala Memória Dirceu Paiva, através do seu curador Esequias Pierre, disponibilizou o acervo da sala, sobretudo o livro Santa Cruz, de Corpo e Alma, que serviu como um norte. Contudo, nenhuma fonte oficial das partidas como súmulas dos jogos, tendo em vista que em tempos atrás, não se tinha o devido apreço na manutenção de sua história futebolística, ou se houvesse algum apreço, o mesmo não respeitava as normas técnicas de preservação. A revisão bibliográfica da revista, junto a análise crítica dos artigos dos diversos jornais, somado ao acervo da Sala Memoria e das anotações pessoais do Senhor Dirceu Paiva, agregam nessa construção do resgate da Excursão da Morte.

     Sempre falo aos meus alunos que ao estudar a ciência história, podemos agilizar o nosso entendimento ao raciocinar melhor o conteúdo trabalhado. Na questão dessa estória, estamos falando de um fato, e ao se tratar de fato, ao meu entender existem três pilares fundamentais para se ter uma boa base de compreensão, são eles:
  • Por que o fato aconteceu? (Motivos)
  • De que forma aconteceu?
  • No que se assucedeu? (Consequências)
Os demais detalhes sobre o fato vão se encaixando no decorrer que ele é contado.

01 – Motivações e Construção da Excursão

    Ao se falar do Santa Cruz Futebol Clube, no meado da década de 40 do século passado, temos que entender que o clube estava no processo de amadurecimento financeiro, e comparado aos times das elites do Recife (América, Náutico Capibaribe e Sport Recife), era o que menos gerava um capital sustentável, mesmo já na época sendo um clube de massas. O futebol pernambucano engatinhava um processo de profissionalização, algo que vinha a passos curtos comparado ao eixo Rio-São Paulo, e mesmo assim foi arrebatador com muitos clubes existentes na época. Devido a isso entre outras coisas, o Time do Povo se encontrava em uma crise financeira, e enxergava a realização de jogos com equipes grandes de cidades próximas, um modo de arrecadar fundos, assim como outros clubes da capital fizeram no mesmo período. O Santa, então resolveu fazer uma excursão, alcançar terras mais longe, pois, dois anos antes o clube já tinha realizado uma viagem até o Pará e Amazonas, sendo a de 1941 a pioneira para essa região.

    E por quais motivos os dirigentes corais resolveram escolher o Norte do Brasil como cenário para os embates? Foram dois os principais: o primeiro é que a região Norte estava com um crescimento econômico com o reavivamento da borracha, reavivamento esse causado pela solicitação de países em guerra, até mesmo após a entrada do Brasil nela, pelo látex e seu derivado. O segundo motivo era que essa região apresentava certames com equipes já bem estruturadas, o que lhe valerias como treino e adaptação para o Campeonato Pernambucano daquele ano. Com esse pensamento, a embaixada Coral se preparou para sair do Recife, jogar em Belém e em Manaus e retornar, durando toda essa epopeia dois meses.

    Contudo, havia um enorme problema no caminho, uma guerra que teve início em 1939, mas em três anos mais tarde afetou o Brasil. Em fevereiro de 1942, submarinos alemães e italianos iniciaram o torpedeamento de embarcações brasileiras no oceano Atlântico em represália à adesão do Brasil aos compromissos da Carta do Atlântico, que previa o alinhamento automático com qualquer nação do continente americano que fosse atacada por uma potência extracontinental, o que tornava sua neutralidade apenas teórica. Durante o ano de 1942, em meio a incentivos econômicos e pressão diplomática, os americanos instalaram bases aeronavais ao longo da costa Norte-Nordeste brasileira. Após meses de torpedeamento de navios mercantes brasileiros o povo vai às ruas e o Governo Brasileiro declara guerra à Alemanha nazista e à Itália fascista, em agosto do mesmo ano já havia uma batalha travada no oceano, chamada de Batalha do Atlântico, foi um conflito bélico e marítimo entre os Aliados e as Forças do Eixo. A cidade do Recife, assim como todo o litoral do Norte-Nordeste é um ponto estratégico, e por isso havia temores de ataques aéreos, devido a isso, as noites recifenses viviam no chamado blecaute, isso como estratégia, pois as luzes nas áreas próximas ao litoral poderiam chamar a atenção do inimigo. Mesmo sabendo disso tudo, e após vários alertas de pessoas da sociedade, entidades como a Federação Pernambucana de Desportos e da própria CDB, que temiam ataque dos submarinos alemães, a embaixada coral, teimosa do jeito que era, embarca rumo a águas do Norte.

    Vale ressaltar uma informação para não cometermos anacronismo. Desde 1940, o Brasil tinha uma divisão territorial, feita pelo IBGE que enquadrava na Região Norte os estados do Acre, Amazonas, Maranhão, Pará e Piauí.

02 – Saída do Porto do Recife, chegada a Natal e Primeira vítima do Escrete-Coral

    Na madrugada do dia 02 de janeiro de 1943, em total escuridão, a bordo da embarcação Vapor Pará, da companhia Lloyd Brasileiro, a Embaixada Coral, composta por Aristófanes de Andrade, Presidente da Delegação e também assumindo os postos de Técnico e Tesoureiro; José Mariano Carneiro Pessoa, o Palmeira, árbitro oficial da Federação Pernambucana de Desportos;  16 jogadores: King e Eutímio (goleiros); Sidinho II, Pedrinho e Zé Maria (Zagueiros); Amaro Caju, Capuco, Guaberinha, Omar e Pelado (médios); Edésio, Limoeirinho, Dicinho, Pinhegas e França (Atacantes), sendo o França repatriado no Ceará. Formados, partem em trajeto ao estado do Pará sendo escoltado por dois navios da Marinha de Guerra do Brasil. No entanto, no mesmo dia atraca no Porto de Natal, onde ali faz a sua primeira vítima, o jornal natalense A Ordem, traz como oponente do Santa Cruz o América de Natal, enquanto o periódico recifense Folha da Manhã, informa que o jogo foi contra o Selecionado “Norteriograndense”. Ambas informações tinham como local o campo da Federação “Norteriograndense” de Futebol, o escrete coral aplica seis gols contra um mísero da equipe alvirrubra, partida essa noticiada pelo periódico da cidade chamado de A Ordem, em sua edição 02155, página 4, comenta a esmagadora atuação do Santa Cruz, diante do América. Enquanto a Folha da Manhã noticia uma vitória do Santa por 6 a 0. Temos então a seguinte situação, somente duas fontes, uma local de onde aconteceu o embate que dá uma informação e outra de um jornal natural de um integrante da partida que diverge da informação anterior. Além disso lembro a vocês que nesse período haviam nomenclaturas no meio jornalísticos que hoje possuem significados diferentes, além disso havia palavras da língua inglesas no nosso dicionário futebolístico que ainda não tinham uma tradução em português. Dessa forma, quando o periódico de Natal menciona na mesma matéria e em matérias de dias diferentes sobre o mesmo jogo os seguintes termos:  Selecionado do América e Selecionado de Natal, estão se referindo ao time do América Futebol Clube, da cidade de Natal. Por isso algumas fontes trazem como enfrentamento, Santa Cruz x Seleção de Natal.

    Guaberinha em entrevista à TV Universitária em 1972, confessa que os passageiros temerosos trocaram os camarotes do navio pelo convés, devido ao medo de algum ataque dos submarinos alemães. Em sua defesa, Guaberinha informa que se o navio fosse atingido, a pressão da água iria fechar as portas dos quartos, o que impediria ou dificultaria a fuga da morte. Além disso a paranoia era tão grande que muitos dormiam armados com facões, ou qualquer outro instrumento perfuro-cortante ou contundente, além de já estarem vestidos com coletes salva-vidas, ou com eles em mãos, demostrando que não era só em campo no qual o time manifestava a raça.
As manchetes em todos os jornais brasileiros tinham em sua capa uma notícia sobre o andar da segunda guerra, isso não foi diferente nos jornais pernambucanos. As notícias mais esperadas além da guerra eram aquelas sobre a equipe tricolor. Naquela época, a gazeta esportiva se dividia entre o Turfe e o Futebol, sendo o primeiro desporto mesmo em decadência, ainda conquistando os corações e tendo maior prestígio nas folhas esportistas.

    A imprensa potiguar destaca a coragem dos pernambucanos por se lançarem ao mar, rente ao perigo, pois cinco dias antes o navio brasileiro Araranguá foi posto a pique por um submarino alemão na costa do Sergipe. Adiante, segue a delegação tricolor, que tem outra parada antes de aportar em Belém.
Fortaleza, capital cearense foi o destino, e dessa cidade vem o reforço do jogador França, que atuava no Ceará Sporting Club. França, chega para substituir o fenômeno coral Tará, que na época era militar da ativa e que coincidente ou não, naquele mesmo ano, Tará deixa de vestir a camisa tricolor, para usar a camisa alvirrubra do Náutico Capibaribe. Porém, os jornais da época falam que o França iria na comitiva do Santa Cruz com a promessa de quando chegasse no Recife iria sair do Santa para jogar no Náutico, além da história de que o jogador já estava acertado com o Sport Recife, sendo o Time do Povo uma ponte de acesso até a capital pernambucana. Agora, já reforçado o Santa apruma a rota para a capital paraense, ao som de melodias e boas conversas.
 
 

2.1 – Estadia no Pará

    Enquanto na guerra os Soviéticos vão ganhando cada vez mais terreno, alçando a bandeira da URSS em Slobodan e avançando suas tropas sobre o Cáucaso, os estrategistas da Alemanha Nazista e da Itália Fascista batem cabeça na evacuação da Sicília, os Aliados destroem 51 aviões do eixo na faixa sul do Mediterrâneo, de Trípoli a Creta, na chamada de Frente de Tunes. No Pará, a Embaixada Coral é recebida com demasiado entusiasmo pela sociedade local, e para aumentar a festa, em sua primeira partida aplica uma sonora goleada de sete a dois, contra os alvinegros do Transviário Sport Club. Incrédula com a categoria dos pernambucanos, os paraenses ficam magnificados com a hombridade dos desportistas corais ao também decretar um minuto de silêncio pela morte do jornalista paraense Chaves Martins, o que repercutiu muito bem. O segundo jogo, já no dia 14 de janeiro, o Santa bate o time cruzmaltino do Tuna Luso Comercial, por 3 tentos a 1. O próximo duelo seria contra aquela que era considera a equipe com mais aficionados locais, e que tinha os melhores jogadores, a esquadra do Clube do Remo. Esse jogo era muito esperado, pois no ano de 1941 o Santa ganhou dos azulinos, quebrando um tabu no qual o Remo nunca antes havia perdido para qualquer equipe de fora do estado. Jornais da época falam desse terceiro jogo do Santa Cruz no Pará, destacando que a sociedade paraense estava extasiada com o futebol avassalador dos tricolores pernambucanos, vendo no Clube do Remo uma forma de reabilitar o futebol local perante os tricolores. O jogador Guaberinha, do escrete coral ganha destaque nas colunas desportistas e é assediado por clubes locais.
É chegada hora do confronto entre tricolores e azulinos, e como no Santa Cruz nem tudo são louros de glórias, a cobra coral sente a primeira derrota, no dia 17 de janeiro de 1943, o esquadrão do Remo aplica 5 gols contra 2 tentos do time da multidão. Relatos de alguns jogadores explica o que seria o motivo da má apresentação em campo. Eles reclamam de intoxicação alimentar, o que retirou do time principal alguns jogadores. Não sabiam eles que ali começava os percalços que iria não só atrapalhar os rumos da Embaixada, como também iria lhe tirar vidas. Enquanto isso não acontece, os próximos embates começam a ser marcados, de ante pronto o Santa Cruz enfrenta a Seleção Paraense, que na verdade foi um apurado de jogadores dos principais times de Belém, para jogar aquela partida. O confronto termina em empate com três tentos para cada lado. Terminando essa primeira passagem pelo Pará, o Santa Cruz enfrenta a equipe bicolor do Paysandu Sport Club, os cronistas remetem o histórico confronto como o encontro do Tricolor de Aço, contra o Esquadrão de Aço. O Santa Cruz aplica 4 a 0, porém deixa o Papão empatar faltando 2 minutos para o fim do jogo. Os periodistas são categóricos ao afirmar que a arbitragem de José Mariano Carneiro Pessôa, o Palmeira, foi prejudicial ao clube tricolor recifense, que com esse amargo empate, se despede de Belém e zarpa em um Vapor Gaiola até Manaus, o caminho é o Rio Amazonas e a embarcação rebocava uma alvarenga com provisões que ia rumo ao Acre, a 10 milhas náuticas por dia, o que seria 18,5km, a viagem durou duas semanas, até aportar no Porto de Manaus.  




2.2 – Estadia no Amazonas

    O trajeto demorado leva ao ócio os atletas da delegação, que matavam o tempo tomando pinga, Guaberinha em entrevista à TV Universitária de Pernambuco, confessa que foram flagrados na sala das máquinas do Vapor, tomando alguns goros com membros da tripulação. O Santa Cruz comemora o seu 29º aniversário em águas do Norte, em caminho a Manaus.

    As manchetes dos jornais amazonenses e pernambucanos destacam a ofensiva dos aliados e a ida de Churchill para Portugal para realizar uma conferência com Salazar. Enquanto isso na matéria de desportos, é anunciada a chegada da Embaixada Coral na cidade de Manaus e o seu primeiro confronto contra o Olympico Club, jogo que ocorreu um dia após os tricolores pisarem em solo manauara, infelizmente o resultado não é positivo para os pernambucanos, o escore final foi de três a um para a equipe amazonense. Os jornais falam do grande feito do Olympico perante o Santa, pois viam a o Time do Povo como um adversário superior, repercutindo muito na sociedade amazonense. Após quatro dias, o escrete tricolor já entra em campo dessa vez contra o Time da Barriga Preta, e o time já recuperado aplica uma goleada de cinco gols, contra um. A moral do tricolor se renova e o nacional, próximo adversário fica temoroso, o que não ajudou em nada, pois o “Naça” leva uma sapatada de seis a um, as gazetas esportivas de Manaus, exalta a vitória tricolor, que faz jus ao pavilhão coral, que celebra tanto que esquece de enviar um telegrama para o Recife, sendo assim a notícia demora chegar até a capital pernambucana.

    Contudo nem tudo são flores, grandes problemas começam a acontecer, a batalha do atlântico fazia com que a comunicação e o transporte marítimo fossem prejudicado, naquela época a aviação no Brasil dava seus primeiros engatinhar e mesmo assim de forma precária e a malha ferroviária além de super requisitada, não abrangia o Brasil todo. Além disso o chefe da delegação, Aristófanes de Trindade e alguns jogadores incluindo os que no Pará se queixaram de intoxicação alimenta são acometidos por uma desinteira, Pinhegas, Guaberinha, França, King, Edésio, e Papeira são tratados e tem como recomendação em sua alimentação, sendo uma nova dieta repleta de frutas e verduras, bastante hidratação e evitar certas comidas como crustáceos, ovos ou qualquer alimento visto como “pesado” ou remorso. Alguns recuperado outros em processo de recuperação, o Santa Cruz tem pela frente mais dois jogos, o primeiro é uma revanche para a equipe do Rio Negro, partida essa que ocorre no dia 18 de fevereiro, onde a equipe coral vence por 5 a 4, conforme afirma o periódico manauara o Jornal, do dia 19 de fevereiro de 1943. Outro embate é contra a Seleção Amazonense, seleção essa feita com os melhores “cracks” dos melhores times ligados a F.A.D.A., talvez, devido ao nível técnico da seleção, somado ao momento de recuperação dos jogadores corais e ao desgaste do resto do escrete, o Santa Cruz tenha perdido o jogo por 2 tentos a 1.
O Santa decida zarpa de volta ao Recife, o planejamento era ir até Belém a bordo do vapor Fortaleza e de lá embarcar na em uma embarcação navio tipo Ita e vir direto para Recife. Bem, essa era a expectativa, contudo ates de sua a buzina do navio, três integrantes da delegação tricolor, deixam a embaixada pois são assediados por clubes de Manaus e acertam contrato com eles. Cidinho, Pelado e Omar desfalcam o time pernambucano, que nesse momento almejava fazer a sua estreia em terras internacionais, após convites de países como Equador, Peru, Guiana e Suriname, o desejo de desbravar o exterior aumentava. O problema era que tinha uma guerra a fora, no mar aberto, e para chegar nesses países o Santa precisaria se lançar ao oceano. O Santa precisava de uma autorização da CBD, devido ao estado de guerra, por vez a CBD precisava da autorização do Itamaraty, que negou. A CBD repassou a informação para a Federação Pernambucana de Desportos, que encaminhou para o Santa Cruz. A telegrama relata que o certame estadual estava marcado para acontecer no dia 14.03.1943, fato que não aconteceu, pois, o campeonato deu o pontapé inicial no dia 04.04.1943, mesmo o Santa Cruz estando com o time principal no maranhão, sendo assim, os juvenis do Santa (equipe amadora) começaram o campeonato até a chegada da embaixada coral. O outro ponto da negação era o fato de que o Brasil estava em guerra contra o eixo, e havia notório risco em águas abertas tanto do Atlântico, quanto do Pacífico, sendo essa ida até o Peru nem um pouco razoável e nem interessante e se o Santa desrespeitasse a informação estaria por conta própria e ainda pagaria uma multa além de uma suspensão de 90 dias. Sabendo disso, a organização coral desiste de alçar esse voo maior, sem contar que a negociação com o Suriname e Guiana não estava se encaminhando bem.

                     





2.3 – Retorno ao Pará

    Já em águas do Rio Amazonas, na cidade de Santarém, os jogadores King e Papeira tem uma recaída na desinteira, examinados pela médica a bordo eles são diagnosticados com Febre Terçã Maligna, nome popular da Malária, e são hospitalizados no Dom Luíz I, da Beneficência Portuguesa na cidade de Belém. Os rumores da delegação é que tanto o Papeira quanto o King confessam que desobedeceram às recomendações médicas. Papeira jogou descalço, tomou banho frio e fumou, enquanto King comeu fígado e ovos no jantar, alimentos proibidos pelo médico. O plano então era a delegação seguir direto para o Recife por mar enquanto King e Papeira iriam ficar sob cuidados do hospital, porém em 1º de março de 1943, o Governo Federal decreta a paralização do tráfego marítimo, que antes estava em contingência. Por esses entraves ninguém esperava... a Embaixada Coral estava no Pará e o único meio de transporte acessível as finanças do clube estava proibido de funcionar por tempo indeterminado, dois jogadores do time principal estavam acamados, a comunicação nesse momento é cada vez mais difícil e o dinheiro que o Santa tinha levado já estava acabando, devido a isso a solução encontrada é jogar bola para garantir o dinheiro da alimentação e dos cuidados médicos dos jogadores doentes.

    O primeiro jogo agendado é dia 02 de março contra o Remo, contudo nesse mesmo dia o chefe de polícia de Belém recebe um telegrama de Manaus pedindo a prisão do jogador Pedrinho, alegando que o mesmo teria feito mal a uma jovem de 17 anos e por isso teria que casar com ela. Pedrinho teria que ficar preso à espera de um agente que iria lhe levar de volta a Manaus para o casório. Aristófanes de Andrade conversa “amistosamente” com Pedrinho que jura de pé junto que sequer se engraçou com ninguém em Manaus, quem dirá fazer mal. Esperto como era Aristófanes então entendeu do que isso se tratava, era um golpe baixo, pois o policial que pediu a prisão de Pedrinho era dirigente de um clube manauara que tinha ficado encantado com a categoria do futebolista. Dessa foram Aristófanes bola um plano em que Pedrinho assina uma carta autorizando o companheiro Pelado, jogador que ficou em Manaus, a se casar por procuração. O casório nunca aconteceu, pois não tinha noiva nenhuma.

O Diário de Pernambuco, do dia 03 de março de 1943, comenta sobre as percas do Santa Cruz para outros clubes, são eles: Cidinho, Omar, Pelado e França. Desses, a maior perca para os aficionados e cronistas da época foi a de Cidinho, que já enfileirava o escrete coral e tinha um bom desempenho. Omar e Pelado eram promessas que acabará de chegar, e França sequer era do Santa, o jogador saiu do Ceará, enfileirou o tricolor durante a excursão no lugar de Tará, saindo de lá com a promessa que iria jogar no náutico e com outra história que já estava acertado com o Sport Recife, acabou ficando no Amazonas, no Rio Negro, saindo assim do alvinegro Ceará Sport Clube, para o Barriga Preta, sendo o clube coral uma ponte.

    Enquanto a Afrika Korps comandada pelo Marechal Erwin Rommel, e seus Panzes do 5º regimento é esfacelada no Norte da África pelos aliados, no Norte do Brasil, o Santa Cruz bate a equipe azulina do Remo por 4 a 2, fora o baile. Contudo a festa não é duradoura, pois na madrugada do dia 4 de março, o jogador King falece, a causa da sua morte ainda é difícil de entender, pois alguns jornais afirmam que foi por causa de uma Febre Terça (Malárioa), enquanto outros afirmam que foi Febre Tifoide (doença bacteriana aguda infectocontagiosa, causada pela Salmonella enterica sorotipo Typhi), essa última até poderia ser explicada pois é transmitida pelo consumo de água e alimentos contaminados ou pelo contato direto, em razão da presença de bacilos eliminados nas fezes e urina humanas dos portadores da doença ativa ou nas fezes dos portadores assintomáticos, por outro lado a Febre Terçã se encaixa como uma luva, pois a Malária era muito atenuante no Norte do Brasil. O registro que se tem é que foi Febre Terçã e a morte foi precisamente as 2h35min do dia 04.03.1943.
 
    Essa notícia deixa a sociedade de Belém em choque e triste, King tem um sepultamento de luxo, sendo antes seu corpo velado na sede da Federação Paraense de Desportos e tendo um cortejo de 50 automóveis que foram desde a sede da FPD até o cemitério. A notícia chega com certa demora ao Recife, o que também abala a nossa sociedade, pois uma Excursão futebolística que tinha propósito de levar diversão aos espectadores, levar o nome do Santa Cruz para outra parte do Brasil e com isso o clube tricolor lucrar um certo valor para equilibrar suas finanças, começava a ter seus revéis. A imprensa pernambucana já noticiava que não via mais sentido do Santa Cruz ainda está no Pará, pois o programado era para a delegação tricolor está em direção a Recife, o que eles não sabiam era da real situação em que a comissão e os jogadores se encontravam, pois, como já foi dito a comunicação naquele período e no local onde se encontrava o Santa Cruz era muito difícil.
 
    A Cobra Coral ainda tinha outra partida para disputar, dessa vez o páreo era contra a equipe bicolor do Paysandu. O Diário de Pernambuco do dia 07 de março de 1943, noticia sobre o jogo entre Santa Cruz x Paysandu que acontecerá naquele mesmo dia dia, é destacada a excursão que o Santa fez em 1941 para o Norte, onde pela primeira vez houve enfrentamento dessas equipes com o esquadrão coral. No caso do Paissandu é lembrado que até meados de fevereiro de 1943, o clube bicolor teria enfrentado o time do povo de Pernambuco em duas outras ocasiões, sendo a primeira delas em 1941, onde o Santa leva a partida por 5x2, e a segunda em 24/01/1943, quando o Santa vencia por 4 a 0 e de forma prejudicial, a arbitragem favoreceu o empate do Paysandu. Seria aquela então a terceira disputa, na qual terminou empatado em 1 tento para cada lado. É destacado também que a sociedade pernambucana, familiares dos atletas, aficionados corais e os periódicos viam aquela permanência do Santa no norte de forma incrédula, pois a notícia do falecimento de King tinha abalado o mundo futebolístico do recife, pois eles não tinham notícias da Embaixada Coral, e quando elas chegavam era de forma demorada. Justificável pois, eles não tinham consciência da condição o clube tinha, fora os embargos que a guerra empunhava, sem contar nos azares que fazia com que a equipe coral postergasse sua volta para casa. É relatado também que o goleiro King sempre foi maltratado em todas as equipes que passará, tido como uma vítima do desporto, vindo do Vitória da Bahia, jogou no Sport Recife, onde arrumou uma briga com outro jogador e o ferio ao se defender, o mesmo foi processado pelo rubro-negro da ilha. Ingressando a equipe Madeira Rubra do Torre S.C., foi vítima de uma agressiva entrada fora de campo de Pitota, que na época era jogador coral.  Foi para o América, onde adoeceu e ficou de molho ror um tempo, não sendo aproveitado pelo alviverde, foi emprestado ao Santa Cruz, onde jogou por um bom tempo até seu falecimento.

    O jogo entre Santa Cruz e Paysandu acontece no dia 07 de março, antes da partida é declarado um minuto de silencia em respeito ao falecimento do goleiro King, a bola rola, um tento para cada lado e chega a notícia do falecimento de Papeira, antes mesmo do fim da partida. Ao apito final, o placar não se altera e a comoção no escrete coral é inevitável, os populares que mesmo em carnaval, preferiram ir assistir ao jogo, invade o campo e leva nos braços os jogadores de ambas equipes, em um verdadeiro estado de fraternidade, tendo uma mistura de alegria e tristeza, uma festa fúnebre. Os desportistas do Paysandu oferecem uma taça, chamada de Taça Recife, aos atletas e delegação coral.
 
    Em entrevista à TV Universitária, o saudoso Guaberinha, confessa que não tinha mais clima e desejo de permanecer naquele local, eles choravam pelas percas e temiam ser os próximos. Limoeirinho e Amaro Cajá são citados como exemplo dos jogadores que não aguentavam mais aquela situação e externavam suas emoções com um choro. É proposto uma ideia de voltar de avião, contudo a delegação não tinha dinheiro para as passagens, haviam os custos a serem pagos com os atletas que sobraram e as despesas médicas e fúnebres de King e Papeira, e como o tráfego marítimo ainda estava proibido, o jeito foi arrumar mais jogos para sobreviver, a peleja agora era uma questão de sobrevivência. O Santa Cruz arruma mais três jogos e depois a FPD realiza um torneio e coloca o Santa Cruz nele, totalizando cinco partidas, a primeira delas dia 14 de março, seria contra a Tuna Luso Comercial, onde terminou em um empate sem gols, o segundo jogo foi no dia 18 de março, contra um time combinado entre Paysandu e Remo que terminou com três gols para cada lado. A essa altura, a sociedade Paraense que acompanhava entusiasmada os jogos do Santa Cruz, deixava de comparecer aos campos, os resultados faziam jus ao desempenho da abatida equipe. A essa altura o Santa ia para a sua próxima partida no dia 21 de março contra novamente a equipe da Tuna Luso. O resultado não foi benéfico, a Tuna ganhou a partida por 5 a 2. No torneio realizado pela FPD, o Santa Cruz se junta aos clubes, Transviário, Tuna Luso, Paissandu e Remo. A divisão do grupo ficou da seguinte forma:
  • Remo x Paissandu
  • Santa Cruz x Tuna Luso
  • Transviário esperando o vencedor do embate entre Santa Cruz x Tuna Luso
Todos os jogos acontecem no dia 28 de março e terminam da seguinte forma:
  • Remo 1 x 2 Paissandu
  • Santa Cruz 1 x 0 Tuna Luso
  • Transviário 2 x 1 Santa Cruz
O Santa Cruz ganha da Tuna Luso por um a zero e no jogo contra o Transviário, perde pelo “score” de dois a um. Mesmo não tendo o enfrentamento entre o Paissandu e o Transviário, a equipe proletária levanta a taça do torneio.
Ao fim do dia o tráfego marítimo é liberado, e de malas prontas, o esquadrão tricolor se prepara para se despedir de Belém e daquela até então trágica Excursão. Nada no Santa Cruz é fácil, vem fácil e acontece fácil... a delegação coral é proibida de embarcar, pois a embarcação ao qual eles iriam viajar até o Recife transportaria uma carga inflamável. Aristófanes de Andrade conta que a diretoria não sabia mais o que fazer, tudo o que eles faziam para voltar ao Recife dava errado, parecia que a âncora do navio estava acorrentada em seus pés. O jeito foi alugar um barco a vela para leva-los até São Luís, lógico a despesa foi grande, pois além da alimentação da embaixada, o clube pagou a alimentação dos tripulantes. Para economizar no dinheiro, a delegação troca as passagens de primeira classe por bilhetes de terceira classe e quando chegassem no Maranhão iriam ficar lá por quatro dias, onde iriam jogar para poder arrumar dinheiro e poder continuar o trajeto até casa. Por terceira classe, os corais têm em sua companhia a ilustre presença de 35 condenados, que a polícia do Pará está exportando para o Maranhão. Por segurança, as taças conquistadas pela delegação são guardadas cuidadosamente, a convivência entre atletas e bandidos é amistosa durante a viagem.
 








2.4 – Passagem por Maranhão, Piauí e Ceará

    Já no Maranhão, o navio fica retido e só poderá sair em comboio, devido a isso a estadia do Tricolor do Arruda é estendida. Novamente os planejamentos mudam e o Santa Cruz tem que arrumar mais jogos para poder pagar as despesas da estadia forçada e da viagem a seguir. A sociedade ludovicense fica ansiosa para ver o escrete coral em campos maranhenses, dessa forma é agendado quatro jogos e depois mais dois de revanche. A primeira partida acontece contra a equipe do Maranhão Atlético Clube, no dia 4 de abril, e o time quadricolor faz jus a sua alcunha “Demolidor de Cartazes” e aplica três a zero na abatida e cansada equipe tricolor, que vê um dos motivos da derrota o estado do gramado. Essa vitória do MAC é muito comemorada não somente por seus adeptos, como toda a população local, isso entusiasma outras equipes nos próximos jogos. O Diário de Pernambuco anuncia no dia 06 de abril de 1943, um possível jogo do Santa Cruz contra a equipe do Football Athletic Club, (grafado como Fabril Athletic Club, antigo nome da equipe) na noite do dia 06/04/1943. O jogo acontece e de espirito moral renovado, o Time do Povo aplica uma goleada de 5 a 1, contra a equipe do FAC. O Moto Clube é o adversário do dia 08 de abril, em um placar apertado o Santa falta a partida com o resultado mínio de um a zero. O jogo do dia 11 de abril é contra a Bolívia Querida, o Sampaio Corrêa, melhor equipe da época e atual campeão...o Santa não quis nem saber disso e enfiou três gols na partida sem levar nenhum, não contente pede uma revanche e em 13 de abril arranca um empate por 2 a 2 com os corais. Isso faz com que o Moto Clube também solicite um jogo revanche que acontece no dia 15 de abril, também arrancando um empate de um a um com os corais.


Não aguentando mais a excursão e seus males, a delegação decide não esperar mais por nenhuma embarcação e tomam como saída pegar um trem que ia de São Luís até Teresina no Piauí e de lá voltar para Recife passando ainda por Fortaleza. O percurso no trem não é nada tranquilo, durante o trajeto o mesmo descarrilha por duas vezes e já na capital piauiense os jogadores ainda tem forças para uma partida contra o Botafogo de Teresina, onde o esquadrão tricolor vencer por quatro tentos a três, essa partida aconteceu no dia 18 de abril como mostra o jornal Gazeta do Piauí, por outro lado o Diário de Pernambuco informa que o jogo foi contra o Selecionado Piauiense, o que leva a alguns pesquisadores entender que a partida fosse contra a Seleção do Piauí, sendo o mesmo caso que aconteceu no primeiro jogo em Natal. Temos somente duas fontes, uma local de onde aconteceu o embate que diz uma coisa e outra de um jornal natural de um integrante da partida que diverge da informação anterior. O Santa Cruz parte para a cidade de Fortaleza, e fica mais próximo de casa, só que antes no dia 25 de abril joga contra o Vozão e perde por 3 a 2 da equipe do Ceará.











3.0 – Missão Retorno

    Daí a diante o Santa ruma para casa sem fazer nenhuma grande parada para jogos, só que passando na cidade de Itambé, que faz divisa entre Paraíba e Pernambuco, eles são parados pela polícia, pois tinham contado algumas lorotas pelo caminho, porém quando os policiais viram que o ônibus se tratava da equipe do Santa Cruz, ficou tudo acertado e enfim puderam seguir com a viagem. Quase a zero hora, ainda no dia 2 de maio, enfim a Embaixada Coral chega ao Recife, é uma comoção entre os atletas e seus familiares, o choro de alegria por vezes se confunde com o de tristeza, pessoas exaltas de corpo e mente, abatidos emocionalmente, Guaberinha conta que seu filho Marcelo não o reconheceu. Os pertences de Pereira são entregues a sua família, infelizmente a do goleiro King não pode ser entregue pois a mesma caiu no mar, no desembarque em São Luís. Além disso todos os participantes trazem na bagagem dor, sofrimento, raros momentos de alegria, experiência e felicidade de poder voltar para casa. O Saldo de 4 meses de excursão para o Santa Cruz é de 26 jogos, sendo 12 vitórias, 7 empates e 7 derrotas, tendo um aproveitamento de 46%, o Santa Cruz nessa jornada fez 74 gols e sofreu 52, ficando com um saldo positivo de 22 gols, uma média de 2,8 gols por partida.






















Conclusão


    A Excursão da Morte é algo muito marcante no Santa Cruz, pois aquela viagem não foi nem a primeira e nem a última, contudo os acontecimentos dela é o que a faz ser mais conhecida e até hoje relembrada. A comparação dos dados revela como era a imprensa naquela época, também os entraves na sociabilidade que atrapalhava e por vezes desvirtua a real situação, entendendo assim que as fontes passem por questionamento de veracidade, não podendo confiar 100% nelas logo no primeiro contato. Esse ato corajoso, descritos por pessoas da época como irresponsável, demostra o efeito da II Guerra Mundial pode fazer, atrapalhando o dia-a-dia orgânico que se tinha seja na mobilidade ou na comunicação. Fato marcante é a necessidade de o clube ir para tão longe na busca de capital para equilibrar suas finanças, fato esse não isolado ao Santa Cruz, pois um calendário competitivo resumido apenas ao certame estadual, os clubes tinham que prover outro modo de se sustentarem no chamado período de iniciação da profissionalização do futebol Pernambucano, que era o reflexo da profissionalização do desporto no país todo. O resgate tenta aproximar de forma mais fiel possível os fatos e acontecimento, não somente em honra dos que perderam avida, e sim de todos que estiveram lá seja para bradar os heróis que conseguiram retornar até suas famílias, seja para exaltar os que ficaram pelo caminho e agradecer a hospitalidade e fraternidade das outras equipes e cidades que receberam a Embaixada Coral. O ano de 1943 é recheado de emoções para o Time do Povo, e a Excursão da Morte tem sua somatória nisso e sempre será lembrada pelo clube, pois pode se passar anos e a história coral se perpetuara na eternidade, pelo simples fato de que o "O Santa Cruz nasceu e vai viver eternamente".

Agradecimentos:
  • Gaspar Vieira Neto Professor e Historiador, da cidade de Manaus, o até então único pesquisador do futebol amazonense vivo, que me ajudo nessa pesquisa ao ir até o Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas e coletou da Hemeroteca do IGHA os dados sobre a passagem do Santa Cruz por terras manauara.
  • Esequias Pierre – Curador da Sala memória Dirceu Paiva, que liberou acesso a alguns recortes de jornais e livros do acervo do clube, além de orientar em certos momentos a construção desse artigo narrativo.
  • Ceará Sporting Club – que respeitosamente foi o único clube de todos os que eu contatei que me responderam e de forma em que me orientou na busca na confirmação dos dados.
  • Pedro Mapurunga – diretor Cultural e da Biblioteca do Ceará Sporting Club, que me ajudou na confirmação do jogo entre Ceará e Santa Cruz, o mesmo enviou uma cópia digitalizada da ficha técnica que o clube possui em seu acervo
Fontes:
§  Livros:
Santa Cruz de Corpo e Alma – João Caixero

§  Revista:
Placar nº 505, de dezembro de 1979 – Matéria “A Excursão da Morte”, escrita por Lenivaldo Aragão

§  Jornais:
Diário de Pernambuco – 1943 – ed 02 – pg 8 – 03.01.1943 –  Santa Cruz embarca para os estados do Norte e almeja passar em Paramaribo, no Suriname.
A Ordem (RN) – 1943 – ed 02155 – pg 4 – 02.01.1943 – Resultado do jogo entre Santa Cruz contra a equipe do América de Natal e ganha a partida por um sonoro 6x1. Alguns pesquisadores catalogam o embate contra a seleção ”norteriograndense”
Diário de Pernambuco – 1943 – ed 10 – pg 5 – 13.01.1943 – Vitória do Santa sobre o Transviário, por 7 a 2, é destacado além da vitória, o fato do Santa Cruz decretar um minuto de silêncio pela morte do jornalista paraense Chaves Martins, o que repercutiu muito bem na sociedade paraense.
Diário de Pernambuco – 1943 – ed 13 – pg 5 – 16.01.1943 – Destaque de Guaberinha no escrete coral
Diário de Pernambuco – 1943 – ed 14 – pg 8 – 17.01.1943 – Jogo muito esperado entre Santa Cruz vs Remo, pois no ano de 1941 o Santa ganhou do Remo, quebrando um tabu no qual o Remo nunca antes havia perdido para alguma equipe de fora do estado.
Jornal Pequeno (PE) – 1943 – ed 12 – pg 2 – 19.01.1943 Jornal fala do terceiro jogo do Santa Cruz no Pará, destacando que a sociedade paraense estava extasiada com o futebol avassalador dos tricolores pernambucanos, vendo no Clube do Remo uma forma de reabilitar o futebol do Pará. Destacar o Escudo do Santa Cruz, visto em 1939 utilizado até 1947.
Diário de Pernambuco – 1943 – ed 15 – pg 5 – 19.01.1943 – Anuncio da derrota do Santa Cruz diante do Remo por 5x2
Jornal Pequeno – 1943 – ed 16 – pg 2 – 21.01.1943 – Comentário sobre o embate entre Santa Cruz contra a seleção paraense, destacando a derrota contra o remo e mostrando uma reclamação dos jogadores corais por intoxicação alimentar, o que retirou do time principal alguns jogadores.
Jornal Pequeno – 1943 – ed 17 – pg 2 – 22.01.1943 –  Empate 3x3 Santa versus Seleção Paraense, em que o Santa sai na frente, leva o empate por 2 a 2, passa novamente a frente e deixa a seleção do Pará empatar novamente.
Diário de Pernambuco – 1943 – ed 21 – pg 5 – 26.01.1943 – Santa Cruz vencia o Paysandu por 4x3, quando faltando 2min para se encerrar a partida o Santa leva o gol do empate.
Jornal Pequeno – 1943 – ed 27 – pg 2 – 03.02.1943 – Santa Cruz comemora o seu 29º aniversário em águas do Norte, em caminho a Manaus.
O Jornal (AM) – 04.02.1943 – Hemeroteca do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas – Anuncia que a delegação do Santa Cruz vai aportar brevemente em Manaus e vão ficar alojados na F.A.D.A.
O Jornal (AM) – 06.02.1943 – Hemeroteca do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas – Chegada da Delegação Coral.
Diário de Pernambuco – 1943 – ed 32 – pg 8 – 07.02.1943 – Notícia de que o Santa Cruz irá enfrentar amanhã (08/02/1943) a equipe do Olympico AM.
O Jornal (AM) – 08.02.1943 – 1943 – Hemeroteca do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas – Anuncio do Jogo Santa Cruz x Olympico.
O Jornal (AM) – 09.02.1943 – Hemeroteca do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas – Resultado do Jogo Santa Cruz 2 x 3 Olympico, partida realizada no dia 08.02.1943.
Diário de Pernambuco – 1943 – ed 33 – pg 7 – 09.02.1943 – Anúncio da derrota do Santa Cruz para o Olympico por 3x2
Jornal do Commercio (AM) – 1943 – ed 13153 – pg 3 – 09.02.1943 – Santa Cruz perde para o Olympico
Jornal Pequeno – 1943 – ed 32 – pg 2 – 09.02.1943 – Derrota do Santa Cruz para o Olympico –
O Jornal (AM) – 12.02.1943 – Hemeroteca do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas –  Anúncio da vitória do Santa Cruz 5 x 1 Rio – Partida realizada no dia 11.02.1943
O Jornal (AM) – 14.02.1943 – Hemeroteca do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas –   Anúncio do jogo do Santa Cruz contra o Nacional
Diário de Pernambuco – 1943 – ed 39 – pg 5 – 16.02.1943 – Destaca a vitória coral sobre o time do Nacional, por um escore de 6 a zero. Porém o ponto que se detém na reportagem é a fala em que diz que esse é o terceiro jogo do Santa Cruz em Manaus, nessa temporada, informando um confronto anterior ao do Nacional e posterior ao Olympico, não relata diretamente qual foi o clube enfrentado, falando apenas o placar de 5 a 1 para o Santa Cruz, e explicando que a notícia não chegou ao Recife em tempo hábil devido que o clube comemorou tanto a vitória que esqueceu de enviar um telegrama, fazendo isso tempo depois, junto a informação de vitória sobre o Nacional.
Jornal Pequeno – 1943 – ed 38 – pg 2 – 16.02.1943 – Vitória do Santa Cruz sobre o Nacional
Diário de Pernambuco – ed 40 – pg 5 – 17.02.1943 – Quarta-Feira, 17 de fevereiro de 1943 – Ressurgirá o Santa Cruz de Outrora? Por Hélio Pinto
Diário de Pernambuco – 1943 – ed 42 – pg 5 – 19.02.1943 – Santa Cruz abandona as negociações de ida para o Suriname e recebe proposta para ir ao Peru, esperando apenas o “Ok” do Concelho Nacional de Desporto, pois havia uma guerra lá fora. Esse “Ok” nunca veio.
O Jornal (AM) – 19.02.1943 – Hemeroteca do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas – Jornal anuncia o resultado do jogo Santa Cruz 5 x 4 Rio Negro, partida realizada no dia 18.02.1943
Jornal do Commercio (AM) – 1943 – ed 13164 – pg 5 – 21.02.1943 – Anuncio do embate entre Santa Cruz e Seleção do Amazonas no dia 21.02.1943
Jornal da Manhã – Hemeroteca CEPE – 21.02.1943 – Pg 7 – Jornal anuncia a vitória do Santa Cruz sobre o Rio Negro por 5x4, contudo não confirma data ou demais informações.
Diário de Pernambuco – 1943 – ed 46 – pg 5 – 24.02.1943 – A CBD envia telegrama a FPF negando a licença para o Santa Cruz ir ao Peru. Tendo o convite feito por clubes e pessoas ligadas aos clubes de Lima, esse fato é importante para ser destacado. O motivo para a negação da CBD foi a dois fatos, primeiro, o certame estadual estava marcado para acontecer no dia 14.03.1943, fato que não aconteceu, pois, o campeonato começou no dia 04.04.1943, mesmo o Santa Cruz estando com o time principal no maranhão, sendo assim, os juvenis do Santa começaram o campeonato até a chegada da embaixada coral. O outro ponto da negação era o fato de que o Brasil estava em guerra contra o eixo, e havia notório risco em águas abertas tanto do Atlântico, quanto do Pacífico, sendo essa ida até o Peru nem um pouco razoável e nem interessante.
Jornal Pequeno – 1943 – ed 51 – pg 2 – 03.03.1943 – Vitória do Santa Cruz sobre o Remo por 4 a 2
Diário de Pernambuco – 1943 – ed 52 – pg 5 – 03.03.1943 – Comentário sobre as percas do Santa Cruz para outros clubes, são eles: Sidinho, Omar e França. Desses, a maior perca para os aficionados e cronistas da época foi a de Sidinho, que já enfileirava o escrete coral e tinha um bom desempenho. Omar era uma promessa que acabará de chegar, e França sequer era do Santa, o jogador saiu do Ceará, enfileirou o Santa durante a excursão no lugar de Tara, saindo de lá com a promessa que iria jogar no náutico e com outra história que já estava acertado com o Sport Recife, acabou ficando no Amazonas, no Rio Negro, saindo assim do Alvinegro Ceará Sport Clube, para o Barriga Preta, sendo o clube coral uma ponte.
Jornal Pequeno – 1943 – ed 52 – pg 2 – 04.03.1943 –  Notícia do falecimento de King, o goleiro coral em 04/03/1943
Diário de Pernambuco – 1943 – ed 54 – pg 5 – 05.03.1943 – Notícia do falecimento de King, o goleiro do Santa Cruz. Causa da morte relatada Febre Tifoide
Diário de Pernambuco – 1943 – ed 56 – pg 8 – 07.03.1943 – Notícia sobre o jogo entre Santa Cruz x Paysandu que acontecerá nesse dia, é destacada a excursão que o Santa fez em 1941 para o Norte, onde pela primeira vez houve enfrentamento dessas equipes com o esquadrão coral. No caso do Paissandu é lembrado que até meados de fevereiro de 1943, o clube bicolor teria enfrentado o time do povo de Pernambuco em duas outras ocasiões, sendo a primeira delas em 1941, onde o Santa leva a partida por 5x2, e a segunda em 24/01/1943, quando o Santa vencia por 4 a 0 e de forma prejudicial, a arbitragem favoreceu o empate do Paysandu. Seria aquela então a terceira disputa, na qual terminou empatado em 1 tento para cada lado. O que se destaca é que a sociedade pernambucana, como os periódicos viam aquela permanência do Santa no norte de forma incrédula, pois a notícia do falecimento de King tinha abalado o mundo futebolístico do recife, o que eles não sabiam era da condição financeira que o clube tinha, fora os embargos que a guerra empunhava, sem contar nos azares que fazia com que a equipe coral postergasse sua volta para casa. É relatado também que o goleiro King sempre foi maltratado em todas as equipes que passará, tido como uma vítima do desporto, vindo do Vitória da Bahia, jogou no Sport Recife, onde arrumou uma briga com outro jogador e o ferio ao se defender, o mesmo foi processado pelo rubro-negro da ilha. Ingressando a equipe Madeira Rubra do Torre S.C., foi vítima de uma agressiva entrada fora de campo de Pitota, que na época era jogador coral.  Foi para o América, onde adoeceu e ficou de molho ror um tempo, não sendo aproveitado pelo alviverde, foi emprestado ao Santa Cruz, onde jogou por um bom tempo até seu falecimento.
Diário de Pernambuco – 1943 – ed 57 – pg 5 – 08.03.1943 – Notícia do empate do Santa Cruz com Paissandu por 1 tento. Destacado a Morte do jogador Papeira. É dito que mesmo em carnaval, as pessoas preferiram ir assistir ao jogo do que ir comemorar a festa, tanto que ao final da partida a multidão invade o campo e leva nos braços os jogadores de ambas equipes, em um verdadeiro estado de fraternidade, foi oferecida uma taça, chamada de Taça Recife, que depois foi dada ao Santa Cruz pelos desportistas do Paysandu.
 
Jornal Pequeno – 1943 – ed 55 – pg 4 – 08.03.1943 – Notícia do Falecimento de Papeira e o resultado do jogo entre Sana e Paysandu 1 a 1
Jornal Pequeno – 1943 – ed 57 – pg 2 – 11.03.1943 – Escalação do Santa e do Selecionado do Pará
Diário de Pernambuco – ed 58 - pg 7 – 11.03.1943 – Notícia do jogo entre Santa cruz e um selecionado “Scratch” paraense programado para esse dia, contudo o mesmo é adiado para o dia 18 de março, como visto na edição 59, página 5.
Diário de Pernambuco – ed 61 – pg 9 – 14.03.1943 – Anúncio do Jogo entre Santa Cruz x Tuna Luso no dia 15/03/1943. Relembrando que em janeiro de 1942 as equipes se enfrentaram pela primeira vez, sendo a equipe cruzmaltina vencedora por 2 a 0.
Diário de Pernambuco – ed 62 – pg 5 – 16.03.1943 – Confirmação do embate entre Tuna e Santa, terminando em um empate sem gols.
Diário de Pernambuco – ed 65 – pg 5 – 19.03.1943 – Confirmação do embate entre Santa Cruz x Combinado Paissandu/Remo, onde o resultado foi 3x3 e a renda do jogo destinada aos familiares de King e Papeira.
Diário De Pernambuco – ed 67 – pg 8 – 21.03.1943 e Diário De Pernambuco – ed 68 – pg 5 – 22.03.1943 – Confirmação do Embate entre Santa Cruz x Tuna Luso, sendo o time cruzmaltino campeão por 5x2
Diário De Pernambuco – ed 73 – pg 8 – 28.03.1943 – Confirmação da participação do Santa Cruz, no torneio realizado pela FPD, junto aos clubes, Transviário, Tuna Luso, Paissandu e Remo, a equipe coral integrará esse certame. A divisão do grupo ficou da seguinte forma:
Remo x Paissandu
Santa Cruz x Tuna Luso
Transviário esperando o vencedor do embate entre Santa Cruz x Tuna Luso
Diário De Pernambuco – ed 74 – pg 5 – 30.03.1943 – Noticia o resultado do torneio, onde os embates terminaram assim:
Remo 1 x 2 Paissandu
Santa Cruz 1 x 0 Tuna Luso
Transviário 2 x 1 Santa Cruz
Mesmo não tendo o enfrentamento entre o Paissandu e o Transviário, a equipe proletária levanta a taça do torneio.
Diário De Pernambuco – ed 78 – pg 7 – 03.04.1943 – O Santa Cruz enfim chega no Maranhão. O jogo entre Santa Cruz versus o Maranhão “Atletico”, por muitos pesquisadores dito como o jogo desconhecido, ou sem resultados, ainda por muitos sem ao menos saber com que clube o Santa jogou, utilizando a grafia AFC ou FAC, isso pode ter acontecido pois os jornais da época ao falar da equipe quadricolor, o chamavam de “Atletico” Clube ou MAC.
Diário de Pernambuco – 1943 – ed 80 – pg 7 – 06.04.1943 – Derrota do Santa Cruz diante do Maranhão por 3 a 0 – um dos motivos relatados do Santa pela derrota foi o estado do gramado – Possível jogo do Santa Cruz contra a equipe do Football Athletic Club, (grafado como Fabril Athletic Club, antigo nome da equipe) na noite do dia 06/04/1943.
Diário de Pernambuco – 1943 – ed 81 – pg 5 – 07.04.1943 – Vitória do Santa Cruz sobre o Football Athletic Club por 5x1
Jornal Pequeno – 1943 – ed 85 – pg 2 – 13.04.1943 – Vitória do Santa Cruz sobre o Sampaio Corrêa por 3 a 0
Diário de Pernambuco – 1943 – ed 87 – pg 5 – 14.04.1943 – Empate do Santa Cruz diante do Sampaio Corrêa, sendo esse um jogo de revanche, pois a Cobra Coral venceu um jogo anterior por 3 a 0. Alguns pesquisadores dão essa partida como seleção do maranhão, contudo conforme o jornal, foi uma partida contra a equipe do maranhão.
Diário de Pernambuco – 1943 – ed 89 – pg 5 – 16.04.1943 – Empate do Santa Diante do Moto Clube, sendo esse um jogo de revanche, pois a cobra coral venceu um jogo anterior por 1 a 0. Alguns pesquisadores dão essa partida como vitória coral, contudo, conforme o documento abaixo, foi um empate.
Gazeta (PI) – 1943 – ed 1374 – pg 4 – 17.04.1943 – Anuncio do embate entre Santa Cruz e Botafogo de Teresina no dia 18.04.1943, porém não foi encontrado uma fonte onde se apresentava o placar.
Diário de Pernambuco – 1943 – ed 92 – pg 7 – 20.04.1943 – Notícia da vitória coral sobre o Selecionado por 4 a 3, partida aconteceu no dia 18.04.1943
Diário de Pernambuco – 1943 – ed 94 – pg 5 – 23.04.1943 – Confirmação do enfretamento do Santa Cruz contra o Ceará no dia 24 de abril de 1943.
Diário de Pernambuco – 1943 – ed 96 – pg 5 – 27.04.1943 – Derrota do Santa por 3x2 diante do Ceará

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